Primeiro Fórum Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima traz panoramas preocupantes

As mudanças climáticas, o desmatamento ambiental e os efeitos do aquecimento global são focos de grande preocupação, uma vez que afetam diretamente a Saúde da população. Como forma de conscientizar e repensar ações que podem ser realizadas para reverter este cenário, a Associação Paulista de Medicina realizou, no último sábado, 23 de agosto, a primeira edição do Fórum Médicos pelo Meio Ambiente e pelo Clima.

Segundo o presidente da APM, Antonio José Gonçalves, apesar de ser um campo relativamente novo, ele precisa ser debatido. “Nós temos que apresentar as evidências científicas das doenças causadas pelas mudanças climáticas. Com os médicos e outros profissionais da Saúde entrando nisso, vamos conseguir dar uma consistência maior às nossas falas e sensibilizar os nossos governantes a respeito da importância de nos atentarmos a este problema e, a partir daí, termos ações efetivas para modificar este panorama no nosso País e no mundo.”

Para os diretores de Responsabilidade Social da entidade, Jorge Carlos Machado Curi e Paulo Celso Nogueira Fontão, existe uma desproporção evidente em relação à gravidade do problema e à intensidade das ações que estão sendo feitas para minimizá-lo. “Este é o motivo de a Associação Paulista de Medicina ter aberto este fórum. Nós temos poluição sonora, visual, do ar, do solo e tudo isso está impactando em doenças gravíssimas, que transcendem as nossas possibilidades de assistência. O desafio é muito grande e este é o momento de avançarmos de forma muito mais vigorosa”, declarou Curi.

Já Gilberto Natalini, delegado da Associação e ambientalista, relembrou que os seres humanos, na ânsia pelo progresso e pelo consumo, vêm retirando mais do planeta do que ele pode oferecer. “A natureza está, cada vez mais, se voltando contra nós. Quando se extingue, por exemplo, uma aranha, não pensem que ela está indo sozinha, porque com ela vai junto uma rede enorme de seres vivos, inclusive nós. Os médicos têm que usar a sua credibilidade para ajudar a transformar esta realidade e ganhar a consciência das pessoas. Se não fizermos isso, vamos ficar tratando as pessoas sem conseguir resultados efetivos.”

Apresentações

O médico Luís Manuel Barreto Campos, presidente do Conselho Português para a Saúde e Meio Ambiente, foi responsável por apresentar o tema “Saúde e Ambiente: Uma Integração Inadiável”. De acordo com o especialista europeu, o contexto atual não é favorável às alterações ambientais e as determinantes estão evoluindo de acordo com os cenários globais mais pessimistas.

Campos relembrou quais são as principais alterações climáticas, os efeitos mais nocivos que elas trazem à Saúde e as doenças associadas. “Os fatores ambientais já são responsáveis por cerca de 13 milhões de mortes mundialmente. Neste momento, a poluição é considerada o principal fator de risco para a mortalidade global, à frente de todos os outros.”

Agnes Soares da Silva, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador no Ministério da Saúde, falou sobre “Rumo à COP30: AdaptaSUS e o Plano de Ação de Saúde de Belém”. “Esta é a COP da ação e da adaptação, e nós temos um objetivo específico para a Saúde, que é de melhorar a adaptação e a resiliência dos sistemas do setor. O nosso plano de ação envolve a equidade em Saúde e Justiça Climática; liderança e governança em clima e Saúde, com participação social; vigilância e monitoramento; estratégia política baseada em evidências e capacitação; e inovação e produção.”

Para o presidente do Conselho da ONG Projeto Hospitais Saudáveis, Vital de Oliveira Ribeiro Filho, a Saúde representa um complexo econômico industrial, com ampla comunidade de pessoas, dimensão tecnológica e valor universal. “Falar em Saúde é basicamente falar de pessoas. A Saúde é, essencialmente, intensiva no cuidado. O profissional de Saúde tem uma enorme responsabilidade, então vemos muito esse lado positivo de ele poder se engajar em uma mensagem [de mudança] para a população.”

Representando Paulo Saldiva, professor Titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, estiveram presentes Danielle Bedin e Mariana Veras, do Instituto Ar, trazendo os “Impactos Reais das Alterações Ambientais na Saúde Humana.”

De acordo com Danielle, não é possível falar em crise climática sem mencionar a crise na Saúde pública – a especialista demonstrou que, entre 2030 e 2050, haverá mais de 250 mil mortes adicionais por desnutrição, diarreia, doenças infecciosas e estresse térmico. “As mudanças climáticas afetarão a todos, porém de forma diferente em cada pessoa e isso decorrente da vulnerabilidade, da extrema desigualdade social que há no mundo e da injustiça climática. O Sul global tende a ter mais repercussão na Saúde do que o Norte, sendo que nós somos os que menos emitem gases de efeito estufa.”

Já Mariana trouxe dados de estudos conduzidos pelo Laboratório de Patologia Ambiental do Hospital das Clínicas, do qual é coordenadora. A especialista demonstrou como as temperaturas extremas, de calor ou de frio, afetam as cidades ao redor do mundo e a Saúde da população. “Temos que pensar na infraestrutura da cidade como uma abordagem terapêutica ou de tratamento para melhorar a Saúde, porque são medidas que atingem a todos. Precisamos olhar criticamente para as cidades, para os fatores de adoecimento e de proteção à Saúde da população. Tudo isso pode ser tratado por políticas públicas.”

Em seguida, Henrique Grunspun, membro da Comissão de Bioética do Hospital Israelita Albert Einstein, abordou as “Questões Éticas Relacionadas ao Meio Ambiente e à Saúde”. Para ele, é fundamental haver um arcabouço ético que dê respaldo nas tomadas de decisões individuais e coletivas. “Se nós não tivermos essa noção ética, não conseguiremos, na prática, fazer o que tem que ser feito e convencer todos os setores e populações. Há quatro princípios que vão enquadrar uma questão ética da crise climática, que são responsabilidade intergeracional, responsabilidade interespécies, princípio da precaução e compromisso com a veracidade.”

O diretor adjunto de Previdência e Mutualismo da APM, Clóvis Franscisco Constantino, trouxe para a análise do público a “Anamnese Ambiental”. O médico apresentou uma série de estudos elaborados pela Sociedade Brasileira de Pediatria e salientou os efeitos da poluição nas crianças. “Quero lembrar que anamnese vem do grego, significa trazer à memória, recordação. Ela é o procedimento mais sofisticado em Medicina, porque é uma técnica de investigação extraordinária, já que em pouquíssimas outras formas de pesquisa Científica o objeto investigado fala. Então, é a nossa fonte de busca por informação”, disse, finalizando as apresentações.

Por: APM